segunda-feira, 23 de maio de 2011

Reticências ou ponto e vírgula?

Conversando com uma nova amiga sobre os problemas afetivos dela me peguei entendendo melhor a mim mesma. Estávamos falando sobre defesas e autosabotagem. É incrível o esforço que eu faço para me sabotar... como eu entro já no jogo pra perder, sem nem me dar um voto de confiança... Por que será que fazemos isso com a gente com tanta frequência?
Desde o assalto à geladeira, burlando o regime, passando pelo roubo nas séries de musculação - que a gente finge que faz pra nos livrar da culpa de comer besteira - até as relações amorosas e trabalhistas, em tudo a gente se sabota. Usamos nossos medos e nossas defesas para perpetuar a condição de vítima, de coitadinhos... afinal, não é mais fácil dar uma desculpa, culpar o destino, o azar, os outros, do que admitir que não se tem é coragem pra mudar a realidade?
Acho que o grande medo humano não é do fracasso... é sim do sucesso. Nos acostumamos demais à condição de sofredores e aprendemos a conviver com a dor... ela já virou amiga, companheira fiel e constante. As noites choradas no travesseiro... o amor não correspondido... a tristeza de ser a única pessoa na face da Terra a não ter ninguém com quem falar, com que sair, a quem amar em um sábado a noite - ainda que existam outras dezenas de milhares de solitários compulsivos soltos por aí, curtindo uma fossa vendo TV sem prestar realmente atenção ao que vê e se achando igualmente único em sua dor - tudo é resultado não da ira de Deus ou do azar, ou da maldade de alguém, mas sim de nossa própria condição de sofredores compulsivos.
Tô ficando cansada de minha dor, minha tristeza ser eterna. Tenho sempre uma desculpa esfarrada que me permite continuar sofrendo. Não tenho mais tempo para malhar por isso estou gorda e feia e ninguém vai me querer. Moro longe dos grandes centros por isso não posso fazer o curso que quero, seguir a carreira que quero. Sou a única dos meus amigos que não tem ninguém, mas isso é porque não tem ninguém que preste no mundo, são todos vazios, fúteis e alienados. Será? Não. Sou eu pondo reticências após cada período... perpetuando a condição de maria madalena da humanidade.
Acho que preciso de um ponto e vírgula, pra começar. Continuar no msm período, mas mudando de enfoque... dando destaque a algo novo, diferente, saindo do marasmo da vírgula, da reticências e dos incômodos pontos finais que nunca terminam nada, mas sim continuam a repetir a ladainha eterna da covardia nossa de cada dia.

Um comentário:

Ceallaigh disse...

Prefira as "reticencias"...elas nos dao a chance do movimento continuo...que termina, mas logo comeca...