segunda-feira, 25 de abril de 2011

Penso em minha vida e sinto uma certa agonia ao pensar que estou parada, estática, sentindo ainda as mesmas coisas, as mesmas emoções, os mesmos sentimentos. Sinto como naquela música de Caetano, estou ainda parada na mesma estação que vi meu amor partir. Ele seguiu. Eu fiquei. E fiquei. E fiquei.
Como se faz para ir embora? Meu corpo viaja, anda por lugares novos, conhece pessoas diferentes, sente cheiros e toques interamente diversos, mas meu coração... esse é um rebelde sem causa... permanece parado esperando... esperando... nem sei se ele lembra mais o que espera, ou por quem espera. Meu coração ainda insiste em amar a mesma pessoa que tem amado nos últimos anos. Ele é tão teimoso. Sinto-me cansada de tentar convencê-lo de que o tempo passou e ele ficou sozinho.
Aparecem algumas oportunidades e eu me sinto na obrigação de agarrá-las, mesmo sabendo que estou sem alma, apenas um zumbi vagando, sorrindo, acenando, mexendo nos cabelos para disfarçar a falta de vida e de vontade de estar ali. Pergunto-me várias vezes por que estou ali, forçando a minha barra, inventando amores, mentindo para mim, criando ilusões sem sentido que me ferem e magoam, pois invariavelmente quando estou só sinto a imensa solidão em que me afundei. Quero ficar mais só do que já estou. Quero desaparecer.
Na verdade nem eu sei o que quero. Acho q quero uma solução miraculosa, mas sei que milagres não existem então espero pelo dia em que me cansarei de querer e serei apenas levada.

domingo, 17 de abril de 2011

Hoje acordei cansada... de tudo.. até de mim mesma. Sabe aqueles dias em que só queremos sumir da face da Terra e virar Luz, em algum lugar no espaço-tempo? Então... esse dia foi hoje. Não que eu não me sinta assim nos demais dias, mas o domingo é em especial um dia triste... é o dia dos casais, dos amores, dos que têm alguém pra compartilhar... eu só tenho meus pais e meus bichos, 2 cães ensandecidos e 5 gatos igualmente desequilibrados, incluindo o Mimo, meu gato meigo.
Abri o jornal de hoje e fui direto para as duas colunas que mais gosto, Marta Medeiros e Alberto Goldin... já fazia algum tempo que não me identificava totalmente com os textos dominicais de Marta, mas devo dizer que o de hoje foi especialmente destrutivo. Vou transcrevê-lo abaixo, pois as palavras dela dizem o que minha alma sente com frequência e esse é um daqueles dias em que não há palavras mais...

Veteranos de Guerra

Quando se fala de amor, muitos usam palavras bélicas, como luta, batalha, conflito. Amar pode ser uma guerrilha diária mesmo.
Isso me faz lembrar os desfiles de veteranos de guerra que a gente vê em filmes, homens uniformizados em suas cadeiras de roda apresentando suas medalhas e também suas amputações. Se o amor e a guerra se assemelham, poderíamos imaginar também um desfile de mulheres sobreviventes desse embate no qual poucos conseguem sair ilesos. Não se perde uma perna ou braço, mas muitos perdem o juízo e alguns até a fé.
Depois de uma certa idade, somos todos veteranos de alguma relação amorosa que deixou cicatrizes. Todos. Há inclusive os que trazem marcas imperceptíveis a olho nu, pois não são sobreviventes do que lhes aconteceu, e sim do que não lhes aconteceu: sobreviveram à irrealização de seus sonhos, que é algo que machuca muito mais. São os veteranos da solidão.
Há aqueles que viveram um amor de juventude que terminou cedo demais, seja por pressa, inexperiência ou imaturidade. Casam-se, depois, com outra pessoa, constituem família e são felizes, mas dói uma ausência do passado, aquela pequena batalha perdida.
Há os que amaram uma vez em silêncio, sem se declararem, e trazem dentro do peito essa granada que não foi detonada. Há os que se declararam e foram rejeitados, e a granada estraçalhou tudo por dentro, mesmo que ninguém tenha notado. E há os que viveram amores ardentes, explosivos, computando vitórias e derrotas diárias: saem com talhos na alma, porém, mais fortes do que antes.
Há os que preferem não se arriscar: mantêm-se na mesma trincheira sem se mover, escondidos da guerra, mas ela os alcança, sorrateira, e lhes apresenta um espelho para que vejam suas rugas e seu olhar opaco, as marcas precoces que surgem nos que, por medo de se ferir, optaram por não viver.
Há os que têm a sorte de um amor tranquilo: foram convocados para serem os enfermeiros do acampamento, os motoristas da tropa, estão ali para servir e não para brigar na linha de frente, e sobrevivem sem nem uma unha quebrada, mas desfilam mesmo assim, vitoriosos, porque foram imprescindíveis ao limpar o sangue dos outros.
Há os que sofrem quando a guerra acaba, pois ao menos tinham um ideal, e agora não sabem o que fazer com um futuro de paz.
Há os que se apaixonam por seus inimigos. A esses, o céu e o inferno estão prometidos.
E há os que não resistem até o final da história: morrem durante a luta e viram memória.
Todos são convocados quando jovens. Mas é no desfile final que se saberá quem conquistou medalhas por bravura conseguiu, em meio ao caos, às neuras e às mutilações, manter o coração ainda batendo.

Martha Medeiros (REVISTA O GLOBO, 17 de abril de 2011)

sábado, 16 de abril de 2011

Um estranho gosto amargo na boca

Engraçado como a vida nos surpreende. Quando penso que minha dor estagnou, que aquilo que me faz sofrer perdeu o poder sobre mim, a vida me mostra que a ferida ainda está lantente, pulsante, hemorrágica.
Estava em paz, tranquila em minha vida monótona e solitária. E de repente a mesma voz, o mesmo medo, a mesma agonia. Um simples alô foi capaz de detonar meu dia. E agora estou eu aqui, deitada na cama, com um gosto amargo na boca, sem comer nada, entalada com o ar, tentando não pensar na crueldade das pessoas.
Na verdade é mais como se houvesse uma imensa bola de ferro sobre a minha barriga, pressionando meu peito, impedindo que eu me mova, que eu respire, que eu fuja. Sei que não posso fugir, mas há um certo desalento em meu ser que me faz descrer da vida, do futuro, do amor. Sinto-me tão só que até mesmo as palavras já me abandonaram.
Estou na fase em que já não tenho mais o que dizer e nem para quem dizer. As pessoas que um dia me ouviram já cansaram da mesma ladainha eterna e eu já me envergonho de ser tão repetitiva e idiota. Hoje não falo mais. Engulo a dor com pão e queijo no café da manhã e se ontem me parecia tão ruim hoje já me parece agradável, tolerável, quase como se não houvesse dor. Até que vem um dia como hoje e me prova que minhas mentiras são tão banais que nem eu mesma me convenço delas.
Acho que escrevo mais por desespero que por desabafo. A impossibilidade de mudar a realidade e a obrigatoriedade de enfrentar os problemas me deprimem e oprimem. Já não há lágrimas, não há palavras, não há esperança. Há apenas uma mulher triste que foge da própria dor. Sad, so sad...
Agora a vida me chama. Porei minha máscara social, um sorriso falso autenticamente amarelo, um batom para disfarçar a palidez e as olheiras das noites em que eu penso em como eu não sou feliz, uma roupa bonita para eu tentar me sentir menos miserável perante a irritante felicidade alheia. Acho que estou pronta para enfrentar meus fantasmas. Dessa guerra não sei se sairei viva, mas certamente morro por dentro a cada instante em que sou obrigada a ver que para mim não há futuro.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Subitamente acordei e percebi que há dois anos que não vivo. Minha alma permanecia guardada em um armário empoeirado, escuro, sem risos, sem sussurros. Apenas os fantasmas da minha consciência habitavam a meu redor. Perguntei-me, confusa: onde estou que não me acho? Por que estou aqui, escondida de mim, fugindo da vida e das pessoas, ainda presa a uma história sem fim, sem começo e pelo visto sem meio também. Platonismo tem limite, penso.
Fingir que não sinto nada pelo visto não me fez deixar de sentir. Só me fez perder dois anos da minha vida, vagando entre copos e olhares, deitando cedo e dormindo tarde, perdendo horas com pensamentos conflituosos, obsessivos, torturantes, que apenas serviam para me consumir. E aqui estou eu novamente, em meio a letras e versos, parágrafos e vírgulas, tentando pôr um ponto final em uma lembrança inquietante que já criou vida própria e que todo Ano Novo aparece para me lembrar de não esquecer.
Creio que nova etapa se inicia. A receita agora fica evidente em cada célula do meu corpo, em cada inalação de oxigênio. Fingir, fugir, odiar, beijar em outras bocas, encenar um novo amor, tentar causar ciume, nada disso funciona. Apenas uma coisa realmente tem algum efeito quando se perde um grande amor para o tempo. O próprio tempo.
A vida é a resposta, vejo agora. Vejo não... sinto. Não cabe mais em mim viver uma realidade inventada, um amor em devaneio, perdido em um limbo imaginário entre o passado e o presente, sem jamais... eu digo jamais, com insidiosa convicção... chegar ao futuro. Posso até afirmar que meu amor nunca existiu. Deveria ser conjugado apenas e tão somente no Subjuntivo, no condicional, no temporal... ou melhor no atemporal.
Não sei como será meu dia a dia, meu cotidiano, minha rotina daqui pra frente. Sei apenas que não quero mais imaginar ligações, cenas, situações, beijos e amassos. Quero pela primeira vez em tanto tempo ficar só... ficar comigo... me saber real, me conhecer.
Prazer, sou Elizabeth Toledo e gosto de comer pizza de pepperoni com coca cola no sábado.
Prazer, sou Liz. Tenho 32 anos, não tenho filhos e nem tenho marido. Todos os meus amigos são casados por isso passo meus dias sozinha em casa, vendo Zorra Total no sábado a noite - mentira, prefiro a morte! - e fingindo que não me importo com o avanço do tempo.
Prazer, sou a Liz. Falo demais, ajo de menos e tenho o grande defeito de ser excessivamente preocupada com as pessoas que amo quando nem elas mesmas se preocupam. Que fazer? Sou eu.
Meu mundinho particular é tão escuro. Preciso levar alguma luz para ele. Quem sabe procurando um vela eu encontre um holofote?

Outono


OUTONO


Os dias seguem o lento passo do destino. Pouco ou nada muda em um cotidiano desgastado e sufocante. Ainda que os dedos da misericórdia divina se movam na direção do atormentado, o destino final nunca é alcançado. A mesma angústia eterna e penetrante permanece... sufocada... apreensiva... desesperada.
Como um barco desgovernado levo meus dias ... sem rumo... sem freio... perenemente oscilando entre o ser e o estar. Hoje estou bem. Amanhã me debulho em lágrimas. Num dia sou alegre. Noutro me despedaço em palavras sem sentido. Sou maré. Sou barco em meio a tempestade. Vivo perdida entre o horizonte e a poente, sem saber que sentido tomar, sem querer tomar qualquer rumo na verdade. Quero apenas permanecer... e ser... parecer.