sábado, 16 de abril de 2011

Um estranho gosto amargo na boca

Engraçado como a vida nos surpreende. Quando penso que minha dor estagnou, que aquilo que me faz sofrer perdeu o poder sobre mim, a vida me mostra que a ferida ainda está lantente, pulsante, hemorrágica.
Estava em paz, tranquila em minha vida monótona e solitária. E de repente a mesma voz, o mesmo medo, a mesma agonia. Um simples alô foi capaz de detonar meu dia. E agora estou eu aqui, deitada na cama, com um gosto amargo na boca, sem comer nada, entalada com o ar, tentando não pensar na crueldade das pessoas.
Na verdade é mais como se houvesse uma imensa bola de ferro sobre a minha barriga, pressionando meu peito, impedindo que eu me mova, que eu respire, que eu fuja. Sei que não posso fugir, mas há um certo desalento em meu ser que me faz descrer da vida, do futuro, do amor. Sinto-me tão só que até mesmo as palavras já me abandonaram.
Estou na fase em que já não tenho mais o que dizer e nem para quem dizer. As pessoas que um dia me ouviram já cansaram da mesma ladainha eterna e eu já me envergonho de ser tão repetitiva e idiota. Hoje não falo mais. Engulo a dor com pão e queijo no café da manhã e se ontem me parecia tão ruim hoje já me parece agradável, tolerável, quase como se não houvesse dor. Até que vem um dia como hoje e me prova que minhas mentiras são tão banais que nem eu mesma me convenço delas.
Acho que escrevo mais por desespero que por desabafo. A impossibilidade de mudar a realidade e a obrigatoriedade de enfrentar os problemas me deprimem e oprimem. Já não há lágrimas, não há palavras, não há esperança. Há apenas uma mulher triste que foge da própria dor. Sad, so sad...
Agora a vida me chama. Porei minha máscara social, um sorriso falso autenticamente amarelo, um batom para disfarçar a palidez e as olheiras das noites em que eu penso em como eu não sou feliz, uma roupa bonita para eu tentar me sentir menos miserável perante a irritante felicidade alheia. Acho que estou pronta para enfrentar meus fantasmas. Dessa guerra não sei se sairei viva, mas certamente morro por dentro a cada instante em que sou obrigada a ver que para mim não há futuro.

Um comentário:

Raquel Cunha disse...

Nossa, me vi em cada palavra postada. Como eh difícil! Estou passando por isso agora e me sinto exatamente assim.